sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Ciúme.

Eu não sei explicar, só sei que sinto. É estranho, dói muito, até demais pro meu gosto. Tem vezes que a dor é tão grande, que o ar levanta uma plaquinha escrita “ausente”. Hoje foi assim, bem idiota, a curiosidade se fez dona de meus dedos, e lá estava eu, com os olhos cheios d’água, focados em algumas frases bobas. Aí tudo ficou negro, ou branco, tanto faz, eu não enxergava...

Frases bobas escritas a muitos meses, mas ainda estavam afiadas o bastante pra cortar meu coração, ou não estavam, eu posso ter apenas feito questão de bater nelas até me furar.

Chorei com meus mil motivos, depois chorei da mesma maneira ao ver cada um deles indo embora. No final me senti na obrigação de chorar só pelo fato de não ter mais motivo algum pra isso.

Falei com ela, e ela me abraçou com aquele mundo de carinho, como sempre. Todas aquelas palavras me confortavam tanto, que o ar me faltou, mais uma vez. Me contou porque, como, quando, pra quem, onde... Me explicou onde começa e onde termina o universo, me disse se Deus existe ou não... E eu me senti completamente idiota, o tapete que estava com os meus mil motivos foi puxado, e eu caí de cara no chão. O chão não era gelado, era quentinho, aconchegante, era lindo e tinha escrito “Eu te amo”.

Eu sou um perfeito idiota...

Quando a gente se dá conta do quanto é idiota, pelo menos pra mim, não há muito que fazer, você pede desculpas pela sua existência e espera a poeira baixar, pra quem sabe da próxima vez você dar uma de esperto e não cair no mesmo buraco.

Mas aí foi a vez dela se sentir mal. Parou o que estava fazendo pra se sentir culpada, culpada como quem não escuta o telefone tocando porque estava cantando no banho. Culpada sem motivo algum, culpada por ter sido feliz, culpada por ter acordado hoje ou naquele dia, culpada por estar cantando alto demais. Se sentiu culpada sem nem saber se era culpada.

Eu chorei, como de costume, mas fiquei aliviado, agora eu só tinha que dar colo, não precisava mais receber, afinal, já estava com a cara no chão gostoso. Então me levantei e tratei de colocá-la rapidamente no colo, mas ela não aceitou com tanta facilidade, chegou a levantar algumas vezes. Enquanto os dois choravam, meus pensamentos se perdiam entre uma coisa e outra, mais ou menos entre ela me explicando o início do universo e um pensamento bem vago sobre como será a formatura do nosso filho. No meio dessa loucura, um estalo, uma luz fortíssima e uma sensação maravilhosa. Era a felicidade. Muito estranho, pra não dizer muito louco, eu me sentir feliz no meio de uma guerra, mas eu fiquei... Fiquei porque, mais uma vez, me dei conta do quanto ela me ama. Olhei de novo pro chão, onde estava escrito “Eu te amo”, e sorri. Sorri porque entendi. Eu já não sou tão idiota...

Só precisei dar mais carinho, dar mais colo, repetir tantas e tantas vezes o quanto isso tudo me completa e me faz tão vivo. Repetir pra mim mesmo, na vontade de fazer com que minha idiotice entenda... Quem sabe eu me torne uma pessoa menos idiota um dia, sem precisar cair em tantos buracos.

Ela teve que ir embora. Eu fiquei gritando que a amo, e que vou continuar amando para sempre, que sem ela eu não teria o gosto da vida, que sem ela pra me acordar, eu nem dormiria... Gritei até sentir que ela sorriu. Incrivelmente cada sorriso dela me faz acreditar que algum Deus existe, sem maiores explicações, simplesmente ele tem o dever de existir. Me deu vontade de chorar, mas eu segurei, não quis chorar da mesma maneira que chorei quando estava triste, quis fazer diferente. Quis me sentir menos idiota, peguei um papel, uma caneta, sentei, e fui escrever...